A edição do programa Análise Política da Semana, transmitida em 13 de dezembro pela Causa Operária TV (COTV), sob a apresentação de Rui Costa Pimenta, teve como foco principal a crítica ao aumento das ações repressivas contra os direitos democráticos, além de uma análise sobre a ofensiva imperialista na Venezuela e ponderações sobre a política externa do governo Lula. Durante o programa, Pimenta também comentou sobre a demissão do professor Alysson Mascaro na USP, a situação na Argentina sob Javier Milei e diversos temas nacionais, como STF, carga tributária, Correios e os apagões em São Paulo.
Pimenta iniciou o programa relembrando a importância das liberdades democráticas e da liberdade de expressão. Ele fez referência à Inglaterra, onde o governo trabalhista estuda uma legislação que restringiria o uso de celulares com Internet para menores de 16 anos. “A Inglaterra, governo britânico, que se diz de esquerda, certo? Governo do Partido Trabalhista”, comentou. Ele então caracterizou o trabalhismo como “uma facção esquerda do imperialismo”. Ao discutir a proposta, disse: “as empresas teriam que desenvolver um celular que não tivesse acesso à Internet. O celular serviria apenas para ligações e envio de mensagens de texto”.
Para o presidente do PCO, essa medida não seria um caso isolado. “Isso vai chegar aqui”, afirmou, explicando que a Inglaterra serve como um modelo para essas políticas: “porque a Inglaterra é um laboratório para essas políticas”. Ele considerou que a justificativa utilizada para esse tipo de medida muda conforme o contexto, mas o objetivo permanece o mesmo. “É uma grande preocupação para coibir o crime, que é a moda atual”, comentou, lembrando que, em outras ocasiões, o foco foi em “corrupção”, “guerra às drogas” e “guerra ao terror”. Agora, segundo ele, o tema atual seria “a proteção dos oprimidos, dos desfavorecidos”, incluindo a juventude: “o jovem deve ser protegido da informação. A informação é uma ameaça para o jovem”.
Pimenta considerou a proposta um ataque político. “Essa lei é, sem dúvida, uma aberração completa”, declarou. Ele argumentou que a esquerda não debate o assunto porque apoia a medida: “a esquerda não pode discutir essa questão, pois a esquerda apoia essa política”. E enfatizou que adolescentes já participam da vida política: “o jovem, o adolescente, o pré-adolescente é um ser político”. Para exemplificar, citou sua própria experiência: “minha filha começou a militância aos 12 anos”. Daí ele concluiu: “proibir a pessoa de usar o celular e redes sociais é uma castração política completa”.
Ao comentar sobre 1984, de George Orwell, Pimenta criticou a interpretação predominante feita pela direita. Ele disse que o livro foi adotado como “uma espécie de Bíblia literária da direita”, que o vê como um retrato da União Soviética. Para ele, essa “é uma interpretação falsa”. O que Orwell descreve, segundo ele, estaria relacionado ao regime britânico: “o que ele retrata ali… é uma característica do regime britânico há muito tempo”. Pimenta também afirmou que a intervenção dos serviços de inteligência é estrutural no país: “a influência dos serviços de inteligência na vida política britânica é muito profunda”. Ele resumiu o funcionamento do Estado britânico: “a Inglaterra é, na verdade, um regime tutelado pelos militares que aparenta ser parlamentar, mas não é um verdadeiro regime parlamentar”.
Ainda sobre as liberdades, Pimenta afirmou que o capitalismo não consegue mais coexistir com os direitos democráticos. “O regime capitalista chegou a um ponto em que não pode mais conviver com os direitos democráticos da população”, disse. Para ele, a “democracia” promovida pelos países imperialistas é apenas uma fachada: “eles falam em democracia porque é uma propaganda interessante para eles”, mas “isso é apenas uma fachada”. E listou o que estaria por trás: “por trás da fachada da democracia, há prisões por piadas, censura de meios de comunicação, censura de opiniões políticas e perseguição política”.
Em seguida, abordou o caso da USP e a demissão do professor Alysson Mascaro. Pimenta descreveu o episódio como “um escândalo absoluto” e afirmou que a universidade instituiu “um processo persecutório”. Segundo ele, as alegações surgiram de “fontes anônimas” e envolvem condutas que “dificilmente poderiam ser consideradas crimes”. Ao zombar do conteúdo das denúncias, disse: “basta olhar o processo para ver como é ridículo. Abraços demorados”. Pimenta insistiu que não houve comprovação: “nada foi provado” e “não há qualquer tipo de corroboração factual dessas acusações absurdas”.
O dirigente também alegou que, conforme a defesa teria demonstrado, o denunciante inicialmente não indicou ter sofrido violência e manteve contato cordial: “mandou mensagens agradecendo”. Pimenta citou o teor dessas mensagens: “ah, professor, adorei a estadia na sua casa. Você me recebeu muito bem”. E concluiu: “quem foi estuprado não envia esse tipo de mensagem”. Em sua análise, houve indução posterior: “alguém interessado em perseguir o professor… foi lá e disse: ‘não, mas isso que aconteceu com você… é uma violência’. Então, a pessoa, influenciada por outros, fez a denúncia”.
Pimenta defendeu que o caso deve ser alvo de uma campanha pública. “Isso precisa ser objeto de uma campanha. Não podemos permitir isso”, afirmou. E qualificou a ação: “é absolutamente criminoso fazer algo assim”. Para ele, a questão vai além do prejuízo pessoal: “é o início de um precedente que pode levar qualquer pessoa a ser perseguida e perder o emprego”. Ele comparou a situação à ditadura militar: “isso é pior do que na época da ditadura”, pois naquela época a perseguição era política aberta, enquanto agora se utilizaria uma acusação “totalmente infundada” para arruinar reputações.
Ao analisar os motivos do caso, Pimenta rejeitou a explicação mais comum de que se tratava apenas de perseguição ideológica por parte de Mascaro, que é marxista. “Acredito que essa versão é equivocada”, disse. Para ele, a hipótese mais plausível seria uma disputa interna: “há uma luta… de um lobby dentro da faculdade de direito do Largo São Francisco para assumir o controle total da faculdade”. Segundo Pimenta, esse lobby buscaria “eliminar figuras inconvenientes”, visando alguém que pudesse denunciar suas ações.
No bloco internacional, Pimenta destacou que a semana “pegou fogo” e destacou a Venezuela como questão central. Ele denunciou as ações dos Estados Unidos contra o petroleiro na costa da Venezuela: “o imperialismo norte-americano confiscou… não roubaram, certo? Foi um assalto à mão armada”. Ele classificou o episódio como: “pirataria, é roubo”. Também argumentou que Washington age como se o Caribe fosse sua propriedade: “o mar do Caribe não pertence aos Estados Unidos”. E descreveu a ação como um ato de violência direta: “eles simplesmente destruíram os barcos. Um ato de violência inacreditável”.
O dirigente enfatizou que a política de cerco à Venezuela precede o atual governo dos EUA. “A política de hostilidade contra a Venezuela… é anterior ao Trump”, disse, mencionando medidas como bloqueio e confisco de reservas: “O bloqueio… quem estabeleceu… não foi o Trump”. Portanto, ele concluiu que responsabilizar apenas a extrema direita seria “encobrir a responsabilidade do imperialismo de forma geral”.
Sobre a resposta da Venezuela, Pimenta elogiou a mobilização interna. “O governo da Venezuela respondeu à altura… Mobilizou a população, e manifestações gigantescas foram realizadas”, afirmou. Ele mencionou o número de convocados: “mais de 4 milhões de pessoas foram mobilizadas para a Guarda Bolivariana”. Para ele, isso desmantela a propaganda da direita pró-imperialista: “caiu por terra a farsa… sobre a eleição venezuelana”. E denunciou que a oposição golpista, especialmente Maria Corina Machado, se apresenta como um instrumento de entrega nacional: “ela entregará toda a riqueza venezuelana ao imperialismo, caso chegue ao poder”.
Pimenta defendeu a radicalização no enfrentamento ao imperialismo por meio de medidas contra a burguesia local. “Na minha visão, eles já deveriam ter reagido… com uma medida de expropriação da burguesia venezuelana”, disse, apresentando isso como uma forma de unificação nacional. Ele citou o exemplo de Cuba, lembrando que Fidel Castro declarou o caráter socialista da revolução sob pressão imperialista: “realizou uma manifestação gigantesca em Havana e declarou que a revolução cubana é socialista, expropriou o capital e a invasão fracassou”. Para Pimenta, uma dinâmica semelhante poderia ocorrer na Venezuela: “isso pode acontecer de forma relativamente fácil na Venezuela”.