
Neste domingo, o Chile irá às urnas em uma eleição que se desenha sob um cenário de insegurança e discussões sobre imigração, com as pesquisas apontando uma possível vitória de José Antonio Kast, do Partido Republicano, frequentemente chamado de “Bolsonaro chileno”.
O candidato de extrema direita, que possui 48,05% das intenções de voto, se destaca em relação à governista Jeanette Jara, que tem 33,65%. Kast pode se tornar o primeiro presidente do seu espectro político desde o fim do regime de Augusto Pinochet, em 1990. A eleição acontece em um contexto de aumento dos imigrantes sem documentação no país, que é um dos principais temas da campanha de Kast.
Com 59 anos, Kast fundamentou sua campanha em políticas rigorosas de controle de fronteiras, propondo deportações em massa e a construção de um “escudo” na fronteira com a Bolívia, inspirado em táticas de Donald Trump nos EUA. Durante o último debate, ele afirmou que imigrantes irregulares teriam “92 dias para deixar o país de forma voluntária”. Essa abordagem contribuiu para ampliar sua vantagem no segundo turno, recebendo apoio de toda a direita chilena.
Por outro lado, Jeanette Jara, do Partido Comunista, busca superar a diferença atacando o plano migratório de Kast, a proposta de cortes de US$ 6 bilhões no orçamento e o histórico legislativo do oponente. Ela questiona a viabilidade econômica desse plano e defende que tais cortes poderiam prejudicar programas sociais. Especialistas, como Fabian Duarte, alertam que a implementação de cortes imediatos poderia gerar “instabilidade política e incerteza econômica”.
A ascensão de Kast também é reflexo do clima de insegurança. Apesar de o Chile ser considerado um dos países mais seguros da América Latina, a taxa de homicídios quase triplicou na última década, subindo de 2,5 para 6,7 por 100 mil habitantes. Essa mudança na percepção da segurança pública elevou a importância da pauta de segurança e reforçou o discurso da ultradireita, que já havia mostrado força nas eleições parlamentares de novembro.

Apesar de ser o favorito, Kast enfrentará dificuldades para governar. A direita conquistou 76 das 155 cadeiras na Câmara e 25 dos 50 assentos no Senado, o que deixa o potencial governo sem uma maioria confortável. Especialistas, como Carlos Huneeus, afirmam que Kast “enfrentará grandes desafios para governar”, em parte por ter se concentrado em fortalecer seu partido ao invés de buscar alianças mais amplas. Há também incertezas sobre a composição de um possível gabinete e o futuro da coalizão de direita.
Esta eleição também simboliza o fim do ciclo de Gabriel Boric, que deixa a presidência em uma posição fragilizada, após derrotas na tentativa de reformar a Constituição e enfrentando críticas à sua gestão, incluindo a lenta recuperação pós-incêndios em Valparaíso. Se as previsões se confirmarem, Kast assumirá um país dividido, com desafios internos significativos e altas expectativas em relação à sua prometida agenda de ordem e controle da imigração.
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